quarta-feira, 14 de julho de 2010

Aniversário da avó!!!!!!!! :D
Excelente pretexto para reunir a família num jantar!

E no caminho ela pergunta: "Quantos anos é que eu faço?" e eu pensei: "Ok. Já não é a primeira vez que isto acontece.". E usei a estratégia que resulta sempre, perguntando-lhe em que ano nasceu e... ela não teve a certeza! "1932, acho eu...???". "Sim, acho que é isso, avó. Então fazes... 78!". "78???!!!", duvida ela.
E ficou cerca de 5 minutos com este raciocínio a prender-lhe o pensamento, até que desistiu.

Durante o jantar, todos estiveram bem-dispostos, saboreando a comida e a companhia. E, no fim, eis que surge o bolo de aniversário que o cozinheiro e os empregados gentilmente levaram até à mesa enquanto todos juntos lhe cantávamos "Os Parabéns". Tal reacção a dela!... Uma euforia desmedida dirigida ao cozinheiro (um perfeito estranho para ela). Senti que aquele foi o melhor momento do dia para ela, mais valorizado até do que o estarmos ali todos juntos. 
Não é que leve a mal, claro! Mas custa ver o "off emocional" em que ela se encontra...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Viagem de quase 2h, eu e a minha avó - mau prognóstico pelo tempo de duração...
E eis que ela me surpreende: viagem agradável, com sol e vento e música para trautear ou cantar com sentimento! E qual não é o meu espanto quando dou com ela a cantar uma das músicas do momento, que lhe ficou no ouvido apenas durante a viagem:
-"...o que ainda não foi feito!..."

Obrigada por este momento!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"Sinto a cabeça vazia."
Telefonámos a outra das netas dela para dar os parabéns. Falei e passei-lhe o telefone: "Toma avó, a S. faz anos. Dá-lhe os parabéns!". Ela até deu, mas sempre com um ar confuso de quem não sabia com quem estava a falar. Quando desligámos perguntou-me quem era a S. que fazia anos.
Aproveitei a deixa para fazer uma revisão de toda a família. Ela ainda reconhece toda a gente e sabe os nomes, mas quando as pessoas estão à frente dela, ou em fotografias. Assim por evocação foi mais difícil... Perguntei-lhe por todos os seus irmãos, se eram casados, se tinham filhos, os nomes de todos... Fui dando pistas para que chegasse às respostas que não soube dizer...
Chamou-me chata umas quantas vezes, mas expliquei-lhe que era para treinar a cabeça dela. De vez em quando respondia "Mas tu não sabes?!", explicava-lhe que o que queria era que ela se lembrasse. E lá ia respondendo...
Às tantas, num momento de pausa, levanta-se e anuncia "Vou-me mas é embora daqui, ó chata. Só perguntas!". E eu cedi; por agora chegava de treino... :)
À refeição:
O meu pai anuncia que lhe vai pôr mais um bocadinho de chocos e pega-lhe no prato (logo ela já tinha comido um prato deles). Quando lhe põe o prato à frente, diz ela "Ah, o que é isto? Vou provar, tem muito bom aspecto!"
Ela costumava ser super cuidadosa com a estética: com a roupa, com o cabelo, pintava sempre os lábios...
Passados cerca de 4 anos do diagnóstico, embora se queixe como toda a mulher de que não tem roupa de jeito, veste a primeira coisa que lhe apareça, sem esforço para que combine ou fique bem.
Por outro lado, quando lhe oferecemos peças de roupa novas, creio que não ficam registadas na sua memória; portanto não as usa, por não se lembrar que as tem.
Acha sempre que nós estamos com roupas novas e manda sempre a boca, insinuando que compramos para nós e para ela não.
"Já não sei nada!"
Confunde o bidé com a sanita e por vezes é no bidé que faz as suas necessidades.
Precisamos de supervisionar os banhos, para evitar por exemplo confusões com champô/gel.
No casamento de uma sobrinha-neta, cantámos os parabéns à minha avó, que tinha feito anos na véspera. Entrou numa euforia tal que nem parecia ela. Parecia louca, "em transe"...
Soa a pormenor, mas foi dos momentos relacionados com a demência dela que me custou mais até hoje. Talvez por isso mesmo, por ter sido tão visível que a minha avó se vai perdendo, que a vou perdendo...
Há já algum tempo, começámos a perceber que as percepções visuais dela estão alteradas. Parece-nos que multiplica a imagem que vê. Por exemplo, estamos os 5 em casa e dois convidados e ela queixa-se porque a casa está cheia de gente. Ou tem um relógio na mesa de cabeceira e pergunta-nos para que é que lá deixamos tantos relógios, que só precisa de um.
Deve ser muito confuso para ela...
Tem mostrado um despreendimento emocional que nos impressiona. Em relação a tudo: à casa onde morou tantos anos, aos convívios com a família...
Sempre foi obstipada. Ultimamente, do que nos apercebemos, não parece estar tanto, pelo contrário. Mas como se esquece de quando vai à casa-de-banho, acredita que anda dias sem consegui fazer nada e pede continuamente que lhe demos laxante. É difícil de contornar...
Acordou e disse que durante a noite tinha caído das escadas; tinha muitas dores e não conseguia andar sozinha. Foi levada ao hospital, onde fizeram todo o tipo de exames, sem nenhum resultado. Não tinha nenhuma lesão, mas não conseguia andar. Esteve várias semanas assim, a precisar de ajuda para andar, deitar, levantar... O que nos pareceu foi que se esqueceu do código que programava esses movimentos...
Lentamente foi recuperando alguma autonomia, mas sempre com os movimentos "presos" e trôpegos. Iniciou reabilitação e passado relativamente pouco tempo recuperou a autonomia total na marcha e em todas as rotinas! Mantém-se assim.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Quando ainda morava com ela, antes até do diagnóstico ser confirmado, dei com a minha avó a limpar a banheira com o piaçaba. Perguntei-lhe o que fazia e disse-me muito segura que estava a limpar a banheira. Lembrei: "Então mas o piaçaba não é para limpar a sanita?..."
Só então deu conta da confusão e constatou "Ah! Pois é!".

Este foi das primeiras situações bizarras que me deixou atenta e nos levou à consulta de Neurologia.